O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

quarta-feira, 27 de abril de 2011

SYLVIA PLATH (1932-1963)


Os pais de Sylvia, eram professores, com oito anos escreveu o seu primeiro poema, mas foi com essa idade que perdeu o pai e começou a ter problemas psicológicos.
O pai de Sylvia Plath está enterrado no cemitério de Winthrop, onde a sua lápide atrai leitores, devido a um dos poemas mais famosos de Plath, "Daddy".


Cedo Sylvia foi inspirada por imagens de vidro, da lua, do sangue, hospitais, fetos, e caveiras. Os seus poetas preferidos eram: Dylan Thomas, WB Yeats, Marianne Moore.



A situação económica familiar, depois da morte do pai, tornou-se problemática, Sylvia estava consciente dessa realidade, sentia insegurança, mas ao mesmo tempo, procurou ser uma aluna brilhante. Quando frequentava o terceiro ano da Faculdade foi convidada pela revista "Mademoiselle"e esteve um mês na cidade de Nova York. Uma experiência traumatizante, que motivou um desassossego na sua visão sobre si própria e sobre a vida em geral. Tentou o suicídio pela primeira vez, com narcóticos. Muitos acontecimentos dessa altura inspiraram o seu único romance, A Redoma de Vidro, (The Bell Jar).
Sylvia foi internada numa instituição psiquiátrica, foi diagnosticada como doente bipolar, sofreu uma terapia de eletrochoques, mas nunca se recuperou completamente.
Terminou os seus estudos e teve uma bolsa, para frequentar a Universidade de Cambridge, na Inglaterra, onde continuou a escrever poesia activamente, publicando os seus trabalhos no jornal Varsity.
Foi em Inglaterra, que Sylvia conheceu o poeta inglês Ted Hughes e apesar de estar contra os padrões do casamento, defendendo que a mulher devia ter uma experiência sexual similar à dos homens, logo se casou.
Viveram alguns anos nos Estados Unidos, onde em 1960, Sylvia publicou o seu primeiro livro, O Colosso. Os seus poemas, cada vez mais exploraram a paisagem surreal da sua psique, presos sob a sombra ameaçadora de um pai morto e de uma mãe com quem não se entendia, mas são ainda lampejos do que estava para vir no início de 1961.
Plath assistiu a seminários do poeta Robert Lowell, como Anne Sexton, Sylvia Plath optou pelo género de poesia confessional.
Voltam para Inglaterra e sofreu um aborto, que seria um dos temas principais, em grande número dos seus poemas.
Ao fim de três anos o seu casamento terminou, principalmente por uma relação extra-conjugal de Hughes. Foi depois da partida de Hughes, que Plath produziu, os poemas de raiva, desespero, amor e vingança que lhe deram fama póstuma. A poeta ficou com dois filhos, de três anos e um ano. Estava com uma grande depressão e vivia com bastantes dificuldades. Os seus últimos poemas, são poderosos e profundos, a morte é uma atracção física cruel, a única saída digna e a dor psíquica torna-se quase táctil.
Na manhã de 11 de Fevereiro de 1963, Plath vedou completamente o quarto das crianças, deixou leite e pão perto das suas camas, tendo ainda o cuidado de abrir as janelas do quarto. Tomou uma grande quantidade de narcóticos, e meteu a cabeça no interior do forno de gás. Na manhã seguinte foi encontrada morta.

--------------- OBRA

Dois anos depois, Ariel, uma colectânea de alguns dos seus últimos poemas, foi publicada, seguindo-se Crossing the Water, Winter Trees e The Collected Poems.
Em 1982, foi-lhe atribuído o Prémio Pulitzer de Poesia para Collected Poems. Sylvia Plath tornou-se uma heroína e mártir para o movimento feminista. Na verdade, ela foi uma mártir, principalmente pelo psicodrama que viveu, dentro da redoma da sua personalidade tragicamente ferida.
Plath manteve o hábito de escrever diários desde os 11 anos, até ao seu suicídio. Os seus diários, foram publicados em 1980. Em 1982, quando o Smith College recuperou os diários que faltavam, Ted Hughes selou-os até 2013. Em 1998, pouco antes de sua morte, Hughes entregou os manuscritos e no ano 2000, os Diários são publicados, com o título The Unabridged Journals of Sylvia Plath. A escritora americana Joyce Carol Oates descreveu a publicação como um "genuíno evento literário".
Hughes foi alvo de muitas críticas, por ter destruído a última parte dos diários de Plath, que continham escritos desde 1962 até a sua morte. Ele defendeu-se, afirmando que os havia destruído num acto de protecção dos filhos, e que o esquecimento para ele era uma parte essencial da sua sobrevivência.

Cinema:O filme Sylvia, de 2003, com Gwyneth Paltrow, retrata a relação conturbada de Plath com Hughes.














ESPELHO
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Sou prateado e exacto.
Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo imediatamente
Do jeito que for, desembaçado de amor ou aversão.
Não sou cruel, apenas verdadeiro
- O olho de um pequeno deus, de quatro cantos.
Na maior parte do tempo medito sobre a parede em frente.
Ela é rosa, pontilhada.
Já olhei para ela tanto tempo,
Eu acho que ela é parte do meu coração.
Mas ela oscila.
Rostos e escuridão nos separam toda hora.
.

Agora sou um lago.
Uma mulher se dobra sobre mim,
Buscando na minha superfície o que ela realmente é.
Então ela se vira para aquelas mentirosas,
as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e as reflicto fielmente.
Ela me recompensa com lágrimas e um agitar das mãos.
Sou importante para ela. Ela vem e vai.
A cada manhã é o seu rosto que substitui a escuridão.
Em mim ela afogou uma menina, e em mim uma velha
Se ergue em direcção a ela dia após dia, como um peixe terrível.
.
ARIEL

.
Estancamento no escuro
E então o fluir azul e insubstancial
De montanha e distância.
.
Leoa do Senhor como nos unimos
Eixo de calcanhares e joelhos!...
O sulco Afunda e passa, irmão
.
Do arco tenso
Do pescoço que não consigo dobrar.
Sementes
.
De olhos negros
lançam escuros Anzóis...
.
Negro, doce sangue na boca,
Sombra, Um outro vôo
Me arrasta pelo ar...
.
Coxas, pêlos;
Escamas e calcanhares.
Branca Godiva, descasco
.
Mãos mortas, asperezas mortas.
E então
Ondulo como trigo, um brilho de mares.
.
O grito da criança
Escorre pela parede.
.
E eu Sou a flecha,
O orvalho que voa,
Suicida, unido com o impulso
Dentro do olho Vermelho,
caldeirão da manhã.

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