O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

sábado, 13 de novembro de 2010

UM SORRISO AOS PÉS DA ESCADA


Henry Valentine Miller (Manhattan, New York, 26 de Dezembro de 1891– Los Angeles, 7 de Junho de 1980)
Este escritor ficou conhecido por desafiar a sua época com a sua escrita contestatária e libidinosa. "Trópico de Câncer" (1934) e "Trópico de Capricórnio" (1938) são alguns dos seus livros que mais chocaram a sociedade, chegando mesmo a ser acusado de pornografia.
Foi só na década de 1960, com as suas reivindicações de liberdade sexual, que a juventude norte-americana reconheceu Miller como um grande autor e até mesmo um guia.
A maioria dos meus leitores, dividem-se em dois grupos distintos: um dos grupos são aqueles que dizem que o sexo os repele e enoja, o outro são os que compartilham que se fale de sexo como uma coisa normal.
( O Mundo do Sexo, 1965).
Miller não gostava da conotação que lhe era dada como escritor sexual, quase um marginal a outros escritores e tentou desmontar essa ideia, sem sucesso. A sua obra por parte do público e da crítica, era considerada literatura erótica, esquecidas as partes filosóficas, que também compõem os seus livros e os livros que escreveu sem qualquer conotação erótica.
Como exemplo lembro, o seu extraordinário livro: «O Sorriso aos pés da Escada». Escrito a pedido do pintor Fernand Léger, a história do palhaço Augusto é de um humanismo próximo da poesia. Miller diz: «O palhaço é um poeta em acção.» E acrescenta: «Ele é a história que desempenha.»Miller considera «O Sorriso aos pés da Escada» a sua obra mais «verdadeira». Talvez porque, tal como revela no epílogo, «quando Augusto se torna ele próprio, a vida começa - e não só para Augusto: para toda a humanidade».
«Morremos a lutar para nascer. Nunca fomos, nunca somos. Estamos sempre na contingência de vir a ser, separados, desligados sempre. Sempre do lado de fora. (...) Um dia destes, falando com um pintor meu conhecido acerca das figuras que Seurat nos deixou, afirmei-lhe que elas se encontravam enraizadas ali mesmo onde ele lhes deu vida - na eternidade. Como me sinto grato por ter vivido com estas figuras de Seurat - na « Grande Jatte», no «Médrano» e fosse onde fosse, em espírito! Não há absolutamente nada de ilusório à volta destas suas criações, cuja realidade é imperecível. Vivem na luz do sol, na harmonia da forma e do ritmo que é melodia pura. E também, de facto, com os palhaços de Rouault, os anjos de Chagall, a escada e a lua de Miró, e todo o seu «zoo» ambulante. Assim também com Max Jacob, que nunca deixou de ser um palhaço - mesmo depois de ter encontrado Deus. Pelo verbo, pela imagem, pelo acto, todas estas abençoadas almas que me fizeram companhia testemunharam e eterna realidade da sua visão. Será nosso, um dia, o seu mundo quotidiano. De facto já é nosso - simplesmente, estamos demasiado empobrecidos para lhe reivindicar a propriedade.»

Um comentário:

  1. Olá,
    Manu, comecei por amar a prosa deste autor para, muitos anos depois, amar a da Agustina Bessa Luís, que tão justamente o considera como um dos mais referenciáveis autores no que concerne à capacidade de criação de uma narrativa a partir da sua experiencia biográfica.

    Cumpts!

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