O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

terça-feira, 2 de novembro de 2010

MISTÉRIOS DE LISBOA - RAOUL RUIZ



"Os Mistérios de Lisboa", baseia-se numa obra literária prolixa de Camilo Castelo Branco, com uma dimensão épica que revisita o século XIX. O filme oscila entre o romance histórico e as considerações filosóficas, que transmutam as fragilidades de folhetim em meditações profundas sobre a comédia humana. Neste contexto, duelos, recepções, bailes, assassinatos e emboscadas reúnem-se num imenso fresco histórico, unificando as narrativas em mosaico numa falsa epopeia que percorre os espaços (Portugal, França, Brasil) com a fluidez que só o grande cinema pode atingir.

Ao ver este filme pode-se pensar em Manuel de Oliveira, mas as formas de abordagem são muito diferentes, há ritmo, não há planos fixos, nem narrações fastidiosas. Tem também um naipe de actores que entraram bem nos seus papeis e preciosismo e riqueza na reconstituição de cenários e guarda-roupa. O que avulta nesta aventura romanesca é a demanda das formas, a procura de tempo perdido nas malhas de um presente complexo, sempre consciente das armadilhas que vai tecendo, jogando na multiplicidade e na irregularidade, Raoul Ruiz constrói a sua obra-prima, feita de fragmentos e de ruínas, fiel ao romantismo de Camilo.
Inconveniente a grande duração do filme, quatro horas e vinte, com um intervalo demasiado curto, que não deu para todos os espectadores tomarem café, eu não tomei. A primeira parte tem uma narração linear, a segunda é mais complexa, exige mais concentração e eu já me sentia cansada, gostava de voltar a ver a segunda parte, mas como será um dia apresentada numa série de seis episódias na RTP, será de rever com todo o prazer, para além tudo gosto bastante de filmes de época.

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