O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

VIANA DA MOTTA (1868-1948)

José Vianna da Motta, nasceu em S. Tomé, filho de pais portugueses. Com dois anos veio para Portugal. Iniciou os seus estudos com sete anos, no Conservatório Nacional, tendo recebido também lições de piano de Joaquim de Azevedo Madeira.

Com treze anos deu o seu primeiro concerto público. O rei-titular de Portugal, D. Fernando II de Saxe-Coburg-Gotha e a condessa alemã, d’Edla, ficaram impressionados com o seu talento precoce e concederam-lhe uma bolsa de estudo para ir estudar para Berlim. José Viana da Mota partiu em 1882 e esteve integrado no meio cultural alemão durante 32 anos, tendo depressa marcado posição como pianista de vulto.

Em Berlim, frequentou o Conservatório Scharwenka, depois teve aulas com Karl Schäffer. Em 1885 recebeu aulas de Liszt em Weimar e dois anos mais tarde foi aluno de Hans von Bülow, que o influenciou no âmbito da filosofia, assim como no estudo aprofundado da obra de Beethoven.

Viana da Mota tornou-se um pianista virtuoso e fez digressões pela Europa, América do Norte e do Sul. Relacionou-se com figuras eminentes, como Ferruccio Busoni, que lhe dedicou uma cadenza de um concerto de Mozart e transcrições e prelúdios sobre corais de Bach (Viana da Mota fez a estreia da transcrição da Tocata, Adágio e Fuga em Dó maior de Bach) e Albéniz dedicou-lhe a sua obra para piano La Veja. Também foram seus amigos Eugen d’Albert, Peter Cornelius, Earl Klindworth, entre outros. As críticas internacionais consideravam o pianista possuidor de uma técnica de grande domínio e brilhantismo, uma sensibilidade invulgar aliada a uma grande inteligência autocrítica e uma profunda ciência musical.
Foi solicitado para colaborar em duos por célebres intérpretes, como Isaye, Sarasate, Casals, Nachez e pela cantora de Lied, Amalie Joachim.

Bastante cedo ganhou reputação como pedagogo, crítico e musicólogo. Escreveu artigos para revistas alemãs de música e foi um dos primeiros na Alemanha a fazer conferências sobre as tão discutidas obras de Wagner. Pelo seu grande conhecimento da obra de Beethoven, foi considerado uma autoridade na interpretação beethoveniana e foi convidado por Guido Adler a participar em Viena, na comemoração do centenário da morte de Beethoven, assim como na Alemanha.

Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914 teve que deixar Berlim e foi para Genebra assumindo o cargo de regência da classe superior de piano do Conservatório, devido à morte do seu titular, Bernhard Stavenhagen, um discípulo de Liszt.

Em 1917, Viana da Mota regressou definitivamente a Portugal tornando-se Maestro Director da Orquestra Sinfónica de Lisboa. Em 1919 aceitou desempenhar a importante tarefa de reformar o Conservatório Nacional, do qual foi director até 1938. Reformou os currículos, tomou uma postura de oposição à cultura da ópera italiana, que tinha sido dominante em Portugal, durante os séculos XVIII e XIX e introduziu o reportório instrumental. Em sequência desta orientação fundou a Sociedade de Concertos de Lisboa, para criar um novo gosto pela música em Portugal e onde ele próprio deu concertos, apresentando inúmeras obras importantes da literatura musical europeia. Este empenho, foi gradualmente restringido a sua carreira de pianista no estrangeiro, mas o seu trabalho de intérprete e de pedagogo, foi bastante importante para as gerações seguintes.

Através das suas composições, pode observar-se o fenómeno de fusão de mentalidades e de características culturais completamente opostas, embora na sua sensibilidade artística, nunca tenha deixado de ser português. Foi um estudioso profundo e meticuloso e no ambiente germânico encontrou um ambiente intelectual propício à sua criatividade. Integrou-se nas novas correntes filosóficas alemãs e foi adepto da «Nova Escola Alemã» e dos novos rumos musicais marcados por Liszt e Wagner. Identificou-se também com os temas literários do final do romantismo, interpretando-os dentro dos moldes alemães, mas incutindo-lhes algo de pessoal e por isso também português.


Nas suas composições de Lied, revelou-se um mestre em criar ambientes singulares, tanto na harmonia como no ritmo, tratando de forma exemplar a parte do cantor, tinha uma característica, era uma pessoa sóbria e a linguagem do piano é por consequência delicada.


Viana da Mota teve ainda o mérito, de ter sido o primeiro compositor português, que procurou conscientemente criar no país música culta de carácter nacional, a sua obra mais importante neste sentido é a sua sinfonia A Pátria (1895), que foi apresentada no Porto, cada um dos seus movimentos é um reflexo de poemas de Luís de Camões. Compôs ainda inúmeras peças para piano e música de câmara.

SINFONIA «A PÁTRIA» 1º.ANDAMENTO



Manteve praticamente a sua actividade até ao fim da vida, a sua morte ocorreu em 1948, tinha o compositor 80 anos.
OBRAS ESSENCIAIS DE VIANA DA MOTTA
MÚSICA ORQUESTRAL:
-Sinfonia A Pátria em Lá Maior, Inês de Castro (Abertura) e Marcha Portuguesa.MÚSICA CORAL SINFÓNICA:
-Invocação dos Lusíadas.MÚSICA CONCERTANTE:

-
Concerto em Lá Maior para piano e orquestra e Fantasia dramática para piano e orquestra.
MÚSICA DE CÂMARA:
-2 Quartetos de cordas, Cenas nas Montanhas, Variações para quarteto de cordas, Andante para quarteto de cordas, Trio para violino, violoncelo e piano, Sonata para violino e piano, Sonata para violino e piano a quatro mãos.MÚSICA DE PIANO:
-2 Barcarolas, Balada, Serenata, Capricio, Sonata em Ré Maior, Meditação, Valsa, 5 Rapsódias Portuguesas e Cenas Portuguesas.
MÚSICA CORAL:
-Várias obras sobre poemas de Cornelius (para vozes femininas com ou sem acompanhamento), Ave Maria (para coro feminino com acompanhamento de cordas).

[C&H]

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