O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

sábado, 9 de outubro de 2010

JOÃO DOMINGOS BOMTEMPO (1775-1842)



João Domingos, nasceu em Lisboa, em 28 de Dezembro de 1775, era filho do músico italiano Francesco Saverio Buontempo que era primeiro oboé da Orquestra da Real Câmara do rei D. José I e de mãe portuguesa.

Os primeiros estudos de Bomtempo, foram inicialmente obtidos através do pai e depois frequentou a principal instituição de ensino, o Seminário da Patriarcal, onde se presume que teve aulas com João de Sousa Carvalho. Aos 14 anos foi admitido na Irmandade de Santa Cecília como cantor, em 1792 também foi cantor da Capela Real da Bemposta e em 1795, devido à morte do pai, foi ocupar o seu lugar na Real Câmara onde esteve até 1801.

Com o seu espírito progressista, ligado à causa liberal e eventualmente à maçonaria, em 1801 partiu para Paris e aí relacionou-se com a comunidade de emigrantes liberais, que se reuniam à volta do poeta Filinto Elísio e iniciou uma brilhante carreira de pianista virtuoso. Apresentou-se na Salle Olympique em 1804, que era dirigida por Rodolphe Kreutzer e depois na Salle Desmarets e em inúmeras cidades francesas. Teve críticas muito favoráveis no Le Publicister e no Le Courrier de L’Europe e tornou-se amigo de Clementi, Cramer, Field e Dussek, entre outros.

Entre 1803 e 1806, foram publicadas as Sonatas op.1 e op.5, o Fandango varié op.4 e os Concertos para piano e orquestra nº.1 op.2 e nº.2 op.3.

Em 1810, na Salle Olympique, no seu último concerto em Paris, foi executada a Sinfonia nº.1 em Mi bemol Maior op.11. Bomtempo teve bastante sucesso em Paris, mas em 1810 foi obrigado a deixar Paris, possivelmente pelas derrotas sofridas em Portugal pelos franceses. O músico partiu para Londres, aí foi também encontrar uma comunidade de emigrantes portugueses liberais, que o ajudaram conjuntamente com algumas famílias aristocráticas inglesas, o que lhe permitiu uma fácil integração, desenvolvendo o seu trabalho como professor de piano, concertista e compositor.

Em 1811, devido à vitória anglo-portuguesa sobre os franceses, realizou-se uma comemoração e Bomtempo apresentou na embaixada de Portugal a cantata Hino Lusíada, com texto do poeta liberal, Vicente Nolasco da Cunha. O músico tinha prestígio e em 1813 figurava como um dos primeiros vinte e cinco «associate members» da recém criada, Philarmonic Society.

Após o rescaldo da Guerra Peninsular, Bomtempo regressou a Portugal, precisamente no ano de 1814, e dirigiu a cantata, O Anúncio da paz, que escreveu para a reintegração de Fernando VII no trono de Espanha. Em 1815 voltou a Londres, o ambiente cultural em Portugal não era favorável, para desenvolver o seu trabalho, embora passado um ano tivesse voltado a Portugal, mas devido ao luto pela morte de D. Maria, os concertos estavam proibidos e por essa razão regressou a Paris em 1818, onde se ocupou a compor aquela que é considerada a sua obra-prima, o Requiem à memória de Camões op.23, no ano seguinte o Requiem foi interpretado em Paris e em Londres.

Entre 1810 e 1822, Bomtempo tinha publicado em Londres, na casa Clementi & C.o, vinte e quatro obras, entre elas a Sinfonia nº.1, primeiro numa versão para piano a quatro mãos e depois para orquestra. Entre 1819 e 1820, publicou em Paris, na casa Auguste Leduc, a Sonata op.20, a Fantasia e Variações sobre um tema de Mozart op.21 e o Requiem op.23.

Bomtempo regressou definitivamente a Portugal, pouco depois do triunfo liberal e da proclamação da Constituição e criou em 1822 a Sociedade Filarmónica, semelhante à que existia em Londres. Esta sociedade, desde a data que foi criada, até à instauração do Regime Absoluto em 1828, conseguiu fazer sessenta e nove concertos à base do reportório vienense e onde também foi executada a Sinfonia nº.2 em Ré Maior de Bomtempo.

Portugal vivia nesta altura um período muito agitado, com muitos problemas políticos que motivaram ao músico uma actividade irregular e mesmo a prisão em 1827, por ter participado em amotinações populares. Em 1828 foi proclamado o Regime Absoluto, depois dos golpes absolutistas da «Vilafrancada» em 1822 e da «Abrilada» em 1828. Esta situação teve como consequência a perseguição aos liberais e Bomtempo teve que se refugiar na embaixada da Rússia, onde permaneceu praticamente todo o tempo que durou o reinado de D. Miguel. Só com o definitivo triunfo da causa liberal e a proclamação de D. Pedro IV, Bomtempo foi reabilitado e recebeu a Comenda da Ordem de Cristo, assim como a nomeação para mestre de música de D. Maria II.

Em 1835 foi criado o Conservatório de Música de Lisboa, segundo o modelo laico do Conservatório de Paris, projecto que Bomtempo já tinha apresentado em 1822, para substituir o Seminário Patriarcal, que tinha sido fundado por D. João V em 1713. Bomtempo foi nomeado director e manteve o seu cargo até à morte. No ano seguinte foi integrado como Escola de Música, no Conservatório da Arte Dramática, que dispunha de uma Escola de Declamação e de uma Escola de Dança, uma iniciativa de Almeida Garrett, com quem o músico teve os seus desacordos.


ALMEIDA GARRETT (1799-1859)
Bomtempo em 1837 casou com Maria das Dores Almeida, de quem teve um filho. Morreu em 1842, devido a uma apoplexia. Foram-lhe prestadas exéquias solenes realizadas na Igreja de S. Caetano e na cerimónia foram tocadas as suas obras: Requiem e Libera me.
MÚSICA DE BOMTEMPO


Foi um compositor ecléctico e fecundo, compôs concertos, sonatas, fantasias e variações para piano, instrumento no qual se notabilizou. Na sua obra há uma influência de Clementi e uma exploração dos recursos sonoros e expressivos do pianoforte.
A sua personalidade como compositor e a sua originalidade estilística, como músico moderno, nascido em Portugal no século XVIII, revela-se de uma forma mais relevante nas suas duas sinfonias, em algumas obras de câmara e no Requiem.

Bomtempo escreveu em 1816, numa edição da Casa Clementi, a obra didáctica, Elementos de Musica e Methodo de Tocar Piano Forte.
OBRAS ESSENCIAIS:
MÚSICA ORQUESTRAL:

2 Sinfonias (possibilidade de mais cinco), Abertura em dó menor, Marcha, Musica di Balio.
MÚSICA CORAL SINFÓNICA:

Requiem, Hino Lusitano, A paz na Europa, Te Deum, Missa em fá menor, Credo, Libera me, Quatro Absolvições, Kyrie e Glória, Tantum Ergo, Mattutino de Morti, Miserere.
MÚSICA CONCERTANTE:

4 Concertos para piano e orquestra (5º.e 6º. Inacabados), Fantasia para piano e orquestra, Divertimento para piano e orquestra.MÚSICA DE CÂMARA:

Quinteto com piano, Serenata para piano, flauta, clarinete, 2 trompas, fagote e contrabaixo, Sonata para violino e piano (existem vários manuscritos de Quintetos e Sextetos incompletos).
MÚSICA PARA PIANO:

10 Sonatas para piano, Variações sobre um minueto afandangado, Variações sobre uma ária de Paisiello, Capricho e «God save the King» com variações, Fantasia e Variações sobre uma ária de Mozart, Variações sobre uma ária da ópera «Alessandro in Efeso», Fantasia com variações sobre um tema de «La Donna del Lago» de Rossini.
MÚSICA DRAMÁTICA:

Alessandro in Efeso (fragmentos de uma ópera).
CONCERTO PARA PIANO











( Estas publicações que tenho feito sobre compositores portugueses, resultaram de um texto que escrevi, depois de frequentar um curso de História da Música Portuguesa, que foi orientado pelo maestro Manuel Ivo Cruz. Nesse meu texto abordo a música «Das Origens à Idade Contemporânea» e os devidos contextos históricos. Aqui publicarei apenas fragmentos desse trabalho, com opções musicais pessoais)

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