O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

terça-feira, 19 de outubro de 2010

GERTRUDE STEIN (1874 em Alleghany, na Pensilvânia - 1946 em Paris)

Em muitas leituras, que tenho feito, principalmente sobre pintores e escritores, aparece o nome de Gertrude Stein. Mulher bastante influente, no meio artístico e que privou com nomes muito conhecidos, como Pablo Picasso, Matisse, Braque, Derain, Juan Gris, Apollinaire, Francis Picábia, Ezra Pound Cézanne, Hemingway, Scott Fritzgerald, Jean Cocteau, T.S. Eliot, Satie , Joyce, entre outros.
Gertrude Stein, é referenciada como escritora, poeta e feminista, mas o seu legado mais conhecido foi a sua influência no mundo artístico, como uma espécie de «mecenas», descobrindo e apoiando grandes artistas, que a ofuscaram completamente.


Filha, de Amélia e Daniel Stein, oriunda da classe média alta, com três anos a família mudou-se para Viena e depois Paris, quando regressou Gertrude tinha cinco anos e mais tarde disse, que foi muito importante o contacto com o alemão e o francês.
Na América a família foi viver para Oakland. Cedo, ela e o seu irmão Leo, 2 anos mais velho, descobriram ter grandes afinidades. Aos 8 anos Gertrude fez a sua primeira tentativa de escrita, a leitura já era para ela uma obsessão, tendo-se iniciado com Shakespeare e livros sobre história natural. Gertrude disse mais tarde, que começou bem cedo o seu caso de amor com as palavras.

Em 1891, com a morte do pai, a família mudou-se para São Francisco, mas depois Gertrude foi viver com uma tia rica em Baltimore e foi estudar para o Radcliffe College, onde teve uma relação especial com William Janes, o seu professor de filosofia. Estudou filosofia, psicologia e depois resolveu estudar medicina, que não concluiu.
Viajou pela Itália, Alemanha e Inglaterra, onde viveu algum tempo com o seu irmão Leo. Depois voltou para a América e foi viver com amigos em Nova Iork. Aqui escreveu o seu primeiro romance, que só foi publicado 4 anos após a sua morte.
O seu irmão Leo foi viver para Paris, para o 27 rue de Fleurus, casa que se tornaria muito famosa. Gertrude foi viver com o irmão em 1904 e durante 30 anos não foi à América, tornando-se em Paris, uma lenda no seu tempo.
Leo tinha-se tornado um coleccionador de arte e a sua casa era conhecida como o «Salon» e as paredes foram-se enchendo de quadros de pintores, que se tornariam muito famosos, como Picasso, Renoir, Gauguin, Cézanne e outros. Vários artistas de vários artes, eram frequentadores do 27, principalmente dos jantares de sábado à noite.
Michael Stein, que era o administrador dos bens familiares dos Stein na América, conhecia Miss Alice B. Toklas, que depois de ouvir falar muito sobre Paris decidiu embarcar para a Europa. Começou a frequentar o «27», a ir às galerias com Gertrudes e também a rever o que a mesma escrevia, até que foi viver com Gertrude, tornando-se a sua companheira durante 39 anos, precisamente até à morte de Gertrude.
Sobre esta relação, a jornalista norte-americana, Janet Malcolm, no seu livro: DUAS VIDAS, escreveu:
Uma era a “abelha-rainha”, bonacheirona e ególatra; a outra, a “operária”, raquítica e feia, que tudo fazia: governava a casa, deixava as coisas em ordem, fazia as vezes de serviçal, era o braço-direito no processo de escrita (revisava os originais e dactilografava as versões finais) e…, não menos importante, dava amor. A relação da escritora Gertrude Stein e a sua companheira Alice B. Toklas não impressiona apenas pela dicotomia de “génios”, o que causa estupefação é a resistência do seu pacto conjugal. Elas nunca se trataram como “casadas” ou “namoradas”, nem perante os mais íntimos, por medo de retaliação, embora muitos soubessem. A vida, entre elas, era estritamente privada.
Alguns amigos, no entanto, presenciavam algumas situações bastante pessoais. Uma vez, Ernest Hemingway foi testemunha de um ataque de ciúme de Alice Toklas.
Stein considerava-se um génio e adorava fazer provocações. A palavra GÉNIO exercia mesmo uma influência considerável na sua vida. Era uma escritora de estilo bastante peculiar e engenhoso, inventora da escrita automática. Os intelectuais do seu tempo, perguntavam se ela era mesmo génio ou não passava de uma impostora. Ela dizia com ironia:"Ser génio exige um tempo medonho, indo de um lugar a outro sem nada fazer", ou então:"
um génio é um génio, mesmo quando nada faz".Gertrude escrevia então o livro, The Making of Americans. O seu estilo abstracto, não foi bem recebido pelo público em geral, um crítico catalogou-a de cubista «literária», devido à sua capacidade de projectar a realidade além da realidade. Uma análise crítica de The Making Of Americans, considera-o um livro frustrado e Gertrude queria que esse livro fosse como um Ulisses de James Joyce.
Gertrude e Alice viajaram para Espanha e Gertrude escreveu uma série de artigos que mais tarde seriam publicados no livro, Tender Buttons. Nesse mesmo ano, o seu relacionamento com Leo começou a ser tenso por causa de Alice e o irmão mudou-se, a partir daí o contacto entre os dois foi muito pouco.
No início de 1914 com a eclosão da Primeira Guerra, os rumores de uma invasão alemã a Paris acabaram por se concretizar, com bombardeios e ataques de Zeppelin. Alice e Gertrude saíram de Paris e só voltaram dois anos depois, para participarem no" Fundo Francês para Feridos". Um automóvel Ford foi enviado dos Estados Unidos, equipado como um caminhão, para distribuir suprimentos nos hospitais em torno de Paris. O Ford foi apelidado de "Tia" em homenagem a tia Gertrude.
Após a guerra, tudo parecia diferente em Paris. Apollinaire morrera poucos dias antes do armistício, logo ele, que fazia as coisas acontecerem, era poeta, crítico, empresário do cubismo, enfim um expoente da Belle Époque e um embaixador da vanguarda. Mas a cidade continuava tão linda como antes e agora enchia-se de turistas americanos. No livro de memórias, Paris é uma Festa, Ernest Hemingway, revela a Paris desse tempo.
Gertrude e Alice também mudaram. Novos amigos apareceram: pintores, escritores e músicos. Entre os aspirantes a escritores estava Hemingway. Sobre Stein disse: "Minha mulher e eu já nos havíamos apresentado a Miss Stein, e tanto ela como a amiga com quem vivia tinham sido muito cordiais e amistosas connosco; ficamos apaixonados pelo estúdio e pelos seus quadros maravilhosos. Era como uma das melhores salas do mais belo museu, com a vantagem de haver uma enorme lareira que nos proporcionava calor e conforto, além das coisas boas que nos ofereciam para comer...Hemingway lia e comentava o que Gertrude escrevia e esta por sua vez fazia o mesmo, mas com severidade infinitamente maior. Não demorou muito a ficar tão ou mais famoso que a mestre e, isso pareceu não agradar a Gertrude, os dois romperam definitivamente o relacionamento.
Esses anos seriam apelidados de "The Lost Generation" ... o mundo desiludido com a guerra, foi a época em que, Hemingway, Fitzgerald e outros escritores expressaram o seu desencanto.

Gertrude e Alice foram para Bilignin onde ela iria produzir alguns de seus melhores trabalhos. Apesar de o seu nome ser bem conhecido, a publicação das suas obras era limitada.
Em 1933 tudo isso mudou com a publicação de A Autobiografia de Alice B. Toklas, que se tornou um best-seller, um livro fundamental da vanguarda dos anos 10, 20 e 30. Este livro, teve como porta-voz Alice, que inicialmente o queria escrever. Stein num estilo muito próprio, conta como jovens artistas e escritores vindos das mais diversas partes do mundo se encontravam em Paris com novos caminhos para a arte. Gertrude Stein, estava por dentro dessa realidade, foi a primeira a pendurar nas suas paredes, pinturas de Juan Gris, Matisse e Picasso. Mais tarde romperia com muitos deles, inclusive com Picasso, por quem manteve grande afeição. Antes porém, posaria noventa e três vezes (dizem), para que o artista catalão desse por finalizado o seu retrato. Stein disse-lhe: "Mas em nada se parece comigo, Pablo". "Mas certamente vai parecer, Gertrude , certamente..." O rompimento dos dois ocorreu em 1927, por ocasião da morte de Juan Gris. Gertrude acusou Picasso, de não ter estimado Gris como deveria ser, e Picasso não gostou.



O seu irmão, sobre o livro, mandou um recado, dizendo:
Meu Deus! Como ela mente!Nos Estados Unidos, o livro transformou-a numa celebridade. Gertrude renitente foi à América fazer várias palestras. Visitaram velhos amigos e fizeram novos… Sherwood Anderson, Thorton Wilder, Charlie Chaplin, e muitos mais. Regressaram e foram para Bilignin, para terem alguma privacidade. Novos rumores de guerra tinham começado, mas Gertrude não podia acreditar, que poderia realmente ser outra guerra mundial.
Em 1937, o senhorio não renovou o contrato de aluguer do 27, porque o seu filho pretendia o apartamento, tiveram que deixar essa célebre casa. Paris esteve ocupada pelos alemães até 1940 e elas só lá voltaram em 1944. Gertrude e Alice, ambas judias escaparam de ir para um campo de concentração, quando a Alemanha cercou Belley. Foram protegidas pelos seus vizinhos e por alguém com relações escusas com a Gestapo (dizem), mas tiveram dificuldades e para sobreviverem venderam alguns quadros. Quando finalmente chegou a libertação, regressaram a Paris. Os amigos começaram a regressar, outros amigos recentes feitos durante a guerra, também se juntaram a elas. Gertrudes disse que se sentia como "avó de todos".
Em 1945 Gertrude foi para Bruxelas, para falar aos soldados, que estavam lá estacionados. Aí sentiu fortes dores abdominais e foi-lhe diagnosticado um cancro no cólon. Morreu no ano seguinte deixando toda a sua fortuna a Alice. Alice B. Toklas morreu em 1967, sobrevivendo a Gertrude 21 anos e encontra-se enterrada ao lado da sua companheira, no cemitério Pére Lachaise, em Paris.

"UMA ROSA É UMA ROSA É UMA ROSA" tornou-se um dos versos mais famosos da literatura, embora Gertrude, nunca se tenha destacado como poeta.
Foi escrita por Stein
, como parte do poema Sacred Emily, que apareceu em 1922 no livro de Geografia e Peças. Nesse poema, a primeira "Rosa" é o nome de uma pessoa. Stein posteriormente utilizou variações sobre a frase em outros escritos, e "Uma rosa é uma rosa é uma rosa», pode ser interpretado como, "as coisas são o que são," uma afirmação da lei da identidade ", A é A ". Na opinião de Stein, a frase expressa o facto de que simplesmente usando o nome de algo, já captar a imaginação e as emoções associadas ao referido. Ela mesma disse numa audiência na Universidade de Oxford, que quando os românticos usavam a palavra "rosa", tinha uma relação directa com uma rosa real. Nas épocas seguintes ao romantismo, o uso da palavra rosa para se referir ao real aumentou, ainda que também implique, por meio do uso da palavra, os elementos arquetípicos da era romântica. Esta repetição, também é uma forma de enfatizar, como nos discursos dos sofistas.
Gertrude Stein, escreveu mais de 400 obras, que se encontram na Yale Collection of American Literature. Das suas obras, as mais referenciadas são: Três Vidas e Autobiografia de Todo Mundo, embora a sua obra mais conhecida, seja Autobiografia de Alice B. Toklas.

(Pesquisa em vários sites)

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