O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

sábado, 7 de agosto de 2010

MILENA JESENKÁ E MARGUERETE BUBER-NEUMANN – CONTEMPORÂNEAS NOS BÁRBAROS ANOS 30 E 40 DO SÉCULO XX

Foi através do livro Milena, escrito por Margarete Buber-Neumann, que conheci melhor Milena Jesenská. O livro, descreve de uma forma impressionante a vida no campo de concentração de Ravensbrück, na Alemanha, onde as duas se conheceram e se tornaram amigas íntimas. Tinham prometido escrever um livro juntas, sobre tão dura e cruel experiência, mas só Margarete conseguiu escapar viva. Milena acabou por morrer, com 47 anos, devido a problemas de rins. O livro Milena é um testemunho, difícil de esquecer, aliás todo o processo do Holocausto. Milena e Margareth, também tiveram a sua experiência comunista, na época do sanguinário Staline.


MILENA JESENSKÁ (1896-1944)


Milena Jesenská, nasceu em Praga no seio de uma família aristocrática. Fez os estudos normais e depois por influencia do pai que era médico, começou a estudar medicina, mas depressa abandonou. Casou, contra a vontade do pai, já que a sua mãe tinha morrido quando ela tinha 16 anos, com o escritor austríaco, Ernst Pollak e foram viver para Viena. Como o casamento se tornou insuportável, devido às constantes traições do marido, Milena procurou a sua independência, inicialmente com muitas dificuldades, tornando-se dependente de cocaína, até conseguir fazer traduções e dar aulas de checo.
Em 1919, Milena leu alguns contos do escritor checo de língua alemã Franz Kafka e escreveu-lhe pedindo-lhe autorização para os traduzir para checo. Esta foi a primeira carta de uma apaixonada correspondência, entre ambos, que durou dois anos (1920 –1922). Pessoalmente só se encontraram duas vezes. 4 dias passados em Viena e um dia em Gmünd. O relacionamento acabou, Milena não teve coragem de deixar Ernest, mas também foi preponderante o conhecimento de que Kafka não ia viver muito, com um adiantado estado de tuberculose, além disso seria sempre um companheiro problemático, com os seus medos mórbidos, mesmo a nível de sexo e da sua extrema sensibilidade. Kafka no entanto confiava totalmente em Milena, dando-lhe a ler todos os seus diários. Quando Kafka morreu, em 1924, Milena escreveu um orbituário onde dizia: Kafka era muito perspicaz, sábio demais para viver e muito fraco para lutar, ele foi condenado a ver o mundo com uma clareza ofuscante de tal forma que ele achou insuportável.

Durante muitos anos Milena ficou conhecida por ter sido a «apaixonada» de Kafka, devido à edição das cartas que ele lhe escrevera, mas Milena foi muitas outras coisas na vida.
Após a ruptura final com Kafka, ela conseguiu depois deixar o marido.
Foi a partir de 1920, que começou a transformar-se numa reconhecida e original jornalista. Em Viena colaborou para os jornais checos, Tribuna e Národní Listy e para as revistas Pestrý týden e Lidové Noviny. Durante os anos 1938 e 1939 editou no importante semanário cultural e político Přítomnost, publicado em Praga por Ferdinand Peroutka. As suas reportagens, artigos e reflexões, são uma visão original do espírito feminista no jornalismo checo, antes da Segunda Guerra.
Voltando a Praga, casou com o arquitecto, Jaromír Krejcar, de quem vem a ter uma filha. Milena sentia-se feliz com o nascimento de Jana, mas ficou muito doente e a sua vida correu riscos. Tornou-se viciada em morfina, acabou por recuperar, mas ficou com problemas num joelho para toda a vida.
Ambos eram membros do Partido Comunista Checo. Krejcar, foi durante um tempo estudar para a União Soviética e acabaram por se divorciar. Milena colaborou com a imprensa soviética, mas depois gradualmente ficou desencantada com o comunismo soviético e denunciou as purgas, as arbitrariedades, os crimes do stalinismo e a traição que muitos militantes comunistas judeus tinham sofrido. Por outro lado apoiou os refugiados alemães que iam chegando fugidos do regime nazi. Quando Praga foi ocupada pelos alemães, Milena andava pelas ruas com uma estrela ao peito, apesar de não ser judia. Foi presa em 1939, no campo de concentração para mulheres, de Ravensbrück, onde se tornou enfermeira e acabou por morrer de doença.

MARGARETE BUBER-NEUMANN (1901-1989)



Buber-Neumann, foi na sua juventude uma activista em organizações de juventude socialista. Depois da Primeira Guerra, tornou-se mais radical e aderiu ao recém-criado Partido Comunista Alemão (KPD). Em 1922 casou com Rafael Buber, filho do filósofo comunista Martin Buber. Divorciaram-se em 1929 e Margareth casou com o líder comunista alemão Heinz Neumann. Quando os nazistas chegaram ao poder em 1933, os Neumanns exilaram-se na União Soviética. Durante a década de 1930, trabalharam para o Comintern, primeiro em França e, depois em Espanha durante a Guerra Civil Espanhola.
Em 1937, Heinz Neumann foi preso e executado em Moscovo nas purgas de Staline. Margarete nunca soube o seu destino exacto. Ela foi presa e enviado para um campo de trabalho na Sibéria, como uma "mulher de um inimigo do povo". Após o Pacto Nazi-Soviético em 1939, foi uma de uma série de alemães comunistas entregues em 1940 pelos soviéticos à Alemanha nazi.
Buber-Neumann, foi presa em Ravensbrück. Como tinha renunciado ao comunismo, foi uma prisioneira privilegiada e desse modo sobreviveu a cinco anos de prisão. Trabalhou como secretária de um oficial alemão, mas como todas as outras prisioneiras passou fome, frio, doenças, pragas, castigos corporais e períodos de enclausuramento na solitária, em escuridão completa. Foi libertada em 1945.
Depois II Guerra Mundial Buber-Neumann passou alguns anos na Suécia, retornando para a Alemanha em 1950. Em 1948, publicou Als Gefangene bei Stalin und Hitler ( "Entre dois ditadores: Prisioneira de Stalin e Hitler"), um relato dos seus anos nos campos soviéticos e nazistas, o que despertou a hostilidade dos comunistas soviéticos e alemães. Em 1949, testemunhou em Paris, a favor de Victor Kravchenko, que processou uma revista ligada ao Partido Comunista Francês por difamação.
Buber-Neumann depois publicou: Von Potsdam nach Moskau: Stationen eines Irrweges ("De Potsdam a Moscovo: Estações de um Erring Way"), a biografia de Milena Jesenska, Kafkas Freundin Milena e Die Flamme erloschene: Schicksale meiner Zeit ( "A Chama Extinta: Factos do meu tempo"), no qual argumentou que o nazismo e o comunismo foram, na prática, a mesma coisa. Por esta altura (1975) tinha-se tornado uma política conservadora, juntando-se à União Democrata-Cristã (CDU).
Em 1980 Buber-Neumann foi premiada com o Grã-Cruz do Mérito da República Federal da Alemanha. Morreu em Frankfurt am Main em 1989.
C&H (diversas consultas na internet)

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