O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.
JEAN-PAUL SARTRE

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

ALBERTO DE LACERDA (1928-2007)



SOBRE ALBERTO DE LACERDA:

Alberto de Lacerda. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-08-17].Disponível na www:
http://www.infopedia.pt/$alberto-de-lacerda>.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_de_Lacerda




NÃO ENCONTRASTE A RUA

Não encontraste a rua
Não encontraste a casa
Não encontraste a mesa
No café que alguém
Por engano indicou.
Mas a cidade é esta
E não outra
Não encontraste o rosto
O anel caiu
Ninguém sabe aonde.
- REGRESSO
Não vim à procura de nada
Nem de saudades que não tenho
Nem de carga do tempo perdido
Nem de conflitos sobrenaturais
Do tempo e do espaço
Amei desde criança
Certas coisas que não choro
Fui a pureza deslumbrada
que não volta jamais
O vidro sem ranhura
que o sol atravessa
A pureza
Que me deixou feridas imortais
Vim para ver
Para ver de novo
Para contemplar sem perguntas
Não vim à procura de nada
Não me perguntem por nada
Um rio não se interroga
O vento não se arrepende
- COPO DE ÁGUA

Que maravilha um copo de água!
Que transparência saborosa
Penetra a luz nos nossos lábios
Como nos olhos uma rosa.
.
Ó material, imaterial
Incandescência, ponte clara!
Brasão da terra, misterioso,
Da terra boa, terra amara.
.
Ó doçura que nos inunda
Como um clarão vindo de tudo,
Ó água que vais abrigando
Neste copo teu riso mudo!
.
Mudo? Não sei. Talvez caudal
Já tenhas sido, eco celeste,
Céu que te abres ao corpo súplice,
Seda que a sede humana veste!
. in Antologia da Poesia Portuguesa Contemporânea,
Um PanoramaOrganização de Alberto da Costa e Silva e Alexei Bueno, Lacerda Editores -
FALEMOS DE MIOSÓTIS
Visto que Você não quer
que as coisas continuem
Assim
Nesse caso
Falemos de miosótis
Flor sobre a qual não sabemos
Nada
- IMAGEM
No firme azul do desdobrado céu
Decantarei a mínima magia
Das sensações mais puras, melodia
Da minha infância, onde era apenas Eu.
.
Da realidade nua desce um véu
Que, já sem mar, apenas maresia,
me vem tecer aquela chuva fria,
Que prende esta janela ao claro céu.
.
Despido o ouropel desvalioso,
Já não apenas servo, mas o Rei
Da luz da minha lâmpada nomeia,
.
Assim procuro o centro misterioso
Do mundo que hoje habito, onde serei
Concêntrica expressão da vida inteira.

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